
O cenário é a Lima dos anos 50, em plena era dourada do rádio. Mario, então com vinte anos, narra seu dia-a-dia como redator de uma emissora de rádio. Lá, ele se vê às voltas com incidentes cômicos e um assistente que, tão logo Mario vira as costas, sempre dá um jeito de emplacar alguma notícia sensacionalista nas manchetes. É lá, também, que ele conhece o incrível autor de radionovelas Pedro Camacho.
Pedro é um homem excêntrico e obcecado por sua arte. Para "mergulhar mais fundo" em seus enredos, fantasia-se de acordo com a cena que está escrevendo: peruca branca e toga se a ação transcorre num tribunal, por exemplo. Na faixa dos cinqüenta anos, invariavelmente descreve seus heróis como "cinqüentões na flor da idade". Além disso, inspira-se nos fatos cotidianos, e um de seus personagens, um incansável exterminador de ratos, deve sua criação ao fato de o autor ser molestado por roedores na pensão onde mora.
A obra alterna capítulos autobiográficos com os eletrizantes capítulos dos folhetins de Pedro. Na vida real, o jovem Mario vive uma paixão proibida com sua tia Júlia, mulher mais velha e divorciada. No mundo da ficção, os personagens começam a migrar sorrateiramente de um folhetim a outro, pois Camacho, estafado, anda com a memória cada vez mais fraca.
Assim, o protagonista da radionovela das seis ressurge na das oito, e a milionária da radionovela das oito materializa-se como a faxineira na trama das sete. De início o público pensa que se trata de um recurso estilístico, mas isso não dura muito e logo a confusão se instaura, com uma onda maciça de personagens aparecendo na história errada.
Numa palestra em São Paulo, Mario Vargas Llosa contou que, depois de publicar Tia Júlia e o escrevinhador, recebeu uma carta indignada de Pedro Camacho. O folhetinista, então morando fora do país e às voltas com a política, protestava acaloradamente contra sua aparição no livro...
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